Noite Trágica


Tic-tac, tic-tac... Ainda com sua chupeta na boca e a ponta do seu cobertor preferido da mão esquerda, deixando-o cair sobre o chão, João olhava atentamente ao antigo relógio de mogno, posto à parede, que sempre o assustava. Meia noite e meia. Era uma daquelas noites frias de verão sulista, da qual a lua reinava poderosa lá no céu e se podia ver na manhã seguinte uma película de orvalho gelado cobrindo toda a relva. Do lado esquerdo do cômodo, a janela aberta dava passagem ao vento, que lá fora fazia as árvores referenciá-lo, e as cortinas, que eram de um pano grosso e pesado, dançarem, produzindo penumbras enormes na parede oposta. A lareira estava apagada, mas ainda se via a fumaça do braseiro recente. João tentou o interruptor de luz, mas esta não acendera. Ao longe, vindo de um dos quartos, provavelmente, escutava-se um som de rádio que dizia:
- Alerta a todos do município, a formação de um ciclone foi identificada ao sul do litoral do estado do Rio Grande do Sul, há grande possibilidade de tempestade e ventos de mais de 160 quilômetros por hora. Procurem um lugar seguro pra se protegerem. Isto não é uma simulação.

(Sonhei com isso esta noite, acaba aqui.)

(Deyvid Peres)