Maria Lua


Maria recebeu esse nome em homenagem a nossa senhora, protetora do mosteiro em que viveu. Sua mãe morrera vítima de uma bala de trovão protegendo-a em seu seio. O assassino levou-a, então, para aquele lugar. Cresceu entre as cercas da construção rezando palavras difíceis que ninguém falava, usando panos demasiados, apertando os pés em tiras de couro. Havia mais três como ela, aliás, não como ela. Eram crianças sim, mas suas almas eram cruéis como os já barbados capitães. Aquele definitivamente não parecia ser lugar para ela. Em noites claras encontrava alento olhando para lua, que aos poucos se tornou sua maior companheira. Depois de Dom Eusébio, claro, que tinha como pai. Mas pai é pai e a lua a fazia resgatar as vagas lembranças que tinha de sua mãe. Aquela luz delicada, afável, refletida nas folhas das árvores enquanto o vento as balançava, era como os cabelos de sua mãe. Cabelos longos como as caudas das araras, e tão negros como o rio em que se banhavam todos os dias. Na face, vermelha urucum, aquele sorriso branco como a própria orbe lunar, conhecido nas margens do rio e herdado de sua gente. Não demorou para os filhos dos caudilhos a chamarem de Maria Lua. LUA para ela era uma honra. Quando emoçou ganhou uma trouxa com bananas, pães, queijo, um marido e foi mandada embora. O mundo por ali era estranho aos olhos e sensações. O chão coberto de pedras dava passagem para os cavalos e suas carroças. Todos usavam muitos panos como no mosteiro. E transpiravam e fediam como em todo o lugar. Homens negros carregavam homens brancos no lugar dos equídeos. O cônjuge, escolhido pela religião para si, era a mistura de todas aquelas faces e peles. Ele levou-a para morar numa cabana perto da mata, o que lhe agradou. Logo emprenhou e deu à luz uma menina de pele branca e cabelos negros.   Que mais tarde puxou a paixão materna pela lua e pelas matas. Nasceu na virada de lua, lua cheia. Algo seduzia-as e atraía-as para aquelas florestas, para aquela gente de lá de dentro. Tiraram-lhes a vida selvagem, mas suas almas ainda permaneciam ilesas.


(Deyvid Peres)

12 comentários:

  1. Estava torcendo para encontrar blogs como o seu, que fogem do senso-comum.
    Amei <3 <3

    Seguindo ja :)
    www.blogdaraymara.blogspot.com

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  2. Nossa que texto lindo, parabéns!

    http://rebobinaoficial.blogspot.com.br/

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  3. Lindo demais, adorei o texto! Já virei seguidora.

    Bjos e boa semana,
    Sheyla.
    http://blogdmulheres.blogspot.com.br/

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  4. Passei por aqui lendo, e, em visita ao seu blog.
    Eu também tenho um, só que muito simples.
    Estou lhe convidando a visitar-me, e, se possível seguirmos juntos por eles, e, com eles. Sempre gostei de escrever, expor as minhas idéias e compartilhar com as pessoas, independente da classe Social, do Credo Religioso, da Opção Sexual, ou, da Etnia.
    Para mim, o que vai interessar é o nosso intercâmbio de idéias, e, de pensamentos.
    Estou lá, no meu Espaço Simplório, esperando por você.
    E, eu, já estou Seguindo o seu blog.
    Força, Paz, Amizade e Alegria
    Para você, um abraço do Brasil.
    www.josemariacosta.com


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  5. Nossa, é tão difícil encontrar um blog tão bom quanto o seu! Está de parabéns. É muita beleza e criatividade...

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  6. Adorei o texto! É difícil encontrar blogs com esse tipo de conteúdo hoje em dia! Já estou seguindo!

    http://daydreamingoficial.blogspot.com

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