O detetive


Procuro por alguém que ainda não sou
Encontro sempre alguém que não conheço
E esse desconhecido se torna amigo
E me ajuda a procurar aquilo que pretendo ser


(Deyvid Peres)

Não querer...




Titi ti titi ti... É triângulo que eles chamam, né? Aquele instrumento musical, metálico em forma de triângulo, que o cara fica marcando passo. Tititi ti titi ti... Não conseguia me concentrar...  O agudo do bater de ferro me remetia inevitavelmente a um pedaço do coração que queria esquecer... Esquecer... Precisava trabalhar e lá estava aquele som infernal na minha cabeça. Não porque me perturbava somente, mas porque trazia à tona um passado que queria não pensar, ou melhor dizer, deixar de lembrar. Não sei o que é pior, querer perder a lembrança de um pessoa, ou NÃO QUERER. Em todo caso, a lembrança vem mesmo assim... No meu caso a culpa é toda da música. Sim, ela que sempre consola, que distrai, que alegra. A música é uma amante que precisa de atenção, quando não distrai e faz a gente feliz, está lembrando a gente de quando a gente era feliz e distraído. Ah, ironia da vida! E quando o que te devora é justamente o que você gosta de comer? Aí meu amigo, aí não tem jeito. Todos os dias ouço um certo gênero, e todos os dias os acordes das guitarras me torturam. Então por que não parar de ouvir, você me perguntaria. Porque eu gosto. Não gosto da tortura, gosto da lembrança que a provoca. Gosto do sorriso que vem ao rosto antes da realidade. Isto meu caro, é o não querer. Acabo por descobrir que não querer é pior que querer... Pior ainda, não querer e precisar querer! Precisar? É preciso precisar? NÃO. Não quero precisar querer! Quero querer, e quero precisar...

(Deyvid Peres)