Victor Heringer


Morre escritor, ganhador de prêmios, inteligência acentuada para o seu talento. 29 anos. Ex-aluno da UFRJ. Essa notícia, surpreendente, apesar de não ter sido amplamente divulgada nos meios de imprensa, vem chegando a mim a cada momento nas zonas mais inesperadas do mundo digital. Ele havia acumulado amigos e admiradores por onde passara, e os depoimentos póstumos estavam ocupando os lugares na parede de homenagens à vida. Mas o que eu estava fazendo ali no mesmo ambiente que tal parede, lendo, absorvendo, e entristecendo-me com cada palavra? Por que eu, biólogo e professor, estaria numa sala de poemas, de resenhas, de elucidações literárias, de conversas tão fora do meu entendimento quanto absurdas ao meu cotidiano? Dois dias de marteladas, cada prego um depoimento nessa parede que eu percorria todos os dias há anos sem saber. Em paralelo, eu secretamente seguia com minhas crônicas tortas, bobas, e cheias da arrogância dos amadores, com meus capítulos esporádicos, e minhas frases soltas sem efeito. Escritos por um celular mediano de tela quebrada, é a falta do computador. Um menino de minha idade e escritor morrera. Longe eu de me achar um escritor, não o sou. Eu que troco 's' por 'x', e faço erros de sintaxe e concordância verbal, me emocionei. Mas é que os depoimentos estavam ali, eu estava ali e a vida não tem hora para acabar, é um sopro.

(Deyvid Peres)

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