Relações Mórbidas



Ultrapassamos na última década as fronteiras do mundo novo. Um mundo digital tão atrelado à nossa vida que já não conseguimos nos ver sem ele. A internet, à mão através dos aparelhos portáteis - e porque não - apêndices tecnológicos de nossos corpos, está a modificar nossas mentes e nosso modo de pensar de forma ligeira e integral. Eu mesmo criei o péssimo hábito de não ir dormir sem dar aquela conferida nas redes sociais, e retornar a elas assim que abro os olhos. Mas o problema não seria tão sério se não nos permitíssemos criar uma personalidade ímpar online. Comecei a reparar isso nesses últimos tempos com a enxurrada de convites de amizade que tenho recebido ultimamente. Criamos um elo com essas pessoas, curtimos suas fotos e postagens, conversarmos no privado, respondemos às "histórias", e (olha que engraçado) quando nos vimos na rua nem damos um oi, no máximo um olhar de reconhecimento tímido. Somos extrovertidos, interessantes e interessados online e offline perdemos o brilho. Acovardamo-nos. Falta-nos prática. É como aquele leitor de língua inglesa que é capaz de acompanhar o Diário de Anne Frank em inglês, e até assistir a todos os episódios de Grey's Anatomy sem legenda, mas não consegue dar uma informação ao gringo quando é parado na rua, simplesmente porque não sai. Falta-lhe a prática. Tornamo-nos aquele atleta que joga a lança sempre com o lado direito, e o resultado de tanto exercício unilateral é um braço bem mais desenvolvido que o outro.

(Deyvid Peres)

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