Qualquer estudante dos primeiros anos de Biologia sabe que mixomicetos são criaturas que parecem serem vindas de outro mundo, que uma substância tânica pode ser ruim mas também pode ser muito boa quando bem utilizada, que 5' -> 3' é o sentido certo em que a vida acontece, que a Glicolíse é responsável por gerar duas moléculas de Piruvato, e que vacas e baleias descendem de um mesmo ancestral comum. Talvez você nem saiba do que eu estou falando, e nem deveria mesmo. Começamos uma graduação, especialmente se é a sua primeira, com uma expectativa um tanto romântica das coisas, "Cetáceos, que lindos!", "Quero trabalhar salvando peixes-boi no Rio Amazonas!", "Impedirei o desmatamento desnecessário!". Que tolos somos, meros sonhadores querendo mudar o mundo que mal conhecemos.
Daí, depois de ter aprendido um pouco mais sobre a profissão, e ter os sonhos massacrados com depoimentos de colegas que passam o dia inteiro com a ocular do microscópio colada ao rosto e resolvendo problemas burocráticos de laboratório. Ou aqueles que são agredidos dando aulas a alunos que não estão nem um pouco interessados em aprender qualquer coisa, e aqueles que prestaram algum concurso e passaram, mas para ganhar duas vezes menos do que qualquer outro profissional da mesma área, entramos numa fase de consternação. Aí você começa a se questionar: Pra que raios eu passo o dia inteiro aprendendo isso tudo? Claro que saber que os mastócitos estão envolvidos na defesa do organismo é primordial a um biólogo, mas como pessoa me pergunto: Que diferença faz? Como isso pode me ajudar no meu cotidiano? Estudar Biologia... Que balela.
Aprendi três coisas naquele dia. Com a abelha percebi que podemos suportar mais do que achamos que podemos e que às vezes não sentir é um jeito de viver mais. Com a formiga e a árvore pude perceber que em algumas situações é preciso oferecer alguma coisa para poder receber, e que de repente seu inimigo não só pode ser seu melhor aliado como a melhor pessoa a se fazer um acordo desse tipo. Reunido com os amigos em volta da fogueira, pude perceber que algumas daquelas pessoas ali eram mais que simples colegas de profissão, alguns eu levaria pra vida toda, e que esses laços só seriam reforçados pelo amor a Biologia, e por pequenos gestos como cobrir o amigo para que ele não sinta frio. Essas coisas sim eu posso usar no meu cotidiano. Então você entra em outra fase, a fase em que você se liga do porquê você escolheu essa tal de Ciências Biológicas, e que ser otimista e romantizar as coisas é um jeito bom de se viver, que sonhar é essencial e se toca que não teria outra profissão em que você se encaixaria melhor.
(Deyvid Peres)
Muito bom!
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