Bárbara havia
chegado à praia bem cedo aquele ano e as flores de Iemanjá ainda eram trazidas
e levadas pelas ondas. Alguns grupos remanescentes comemoravam a passagem de ano
novo, bêbados e felizes. Subiu a pedra para ver as baratinhas-da-praia
correrem, como era divertido! No horizonte o sol reinava vermelho, tingindo o
céu de rosa. Os pássaros já festejavam nas árvores. Descendo, dirigiu-se para
seu cantinho secreto, um pequeno espaço de areia por entre duas pedras grandes
que davam vista para o mar. Era habitual, sentava-se à beira da água, de costas
para o rochedo, todo primeiro de janeiro. Mexia os dedos do pé bem devagar
sentindo a areia correr até enterrá-los. Fechava os olhos e notava o vento
acariciar-lhe os fios do cabelo, enquanto o sol beijava-lhe o rosto. Mentalizava
coisas boas e positivas. Gostava de pensar nas pessoas de que amava unidas e em
paz. Pensava na família, na melhora de sua avó. Pensava em ver sua mãe feliz e
sorrindo ao lado de seu pai. Pensava em Luíza, sua melhor amiga, sendo forte
para aguentar a separação de seus pais. Lembrava-se dos moradores de rua e
desejava-lhes que este ano sentissem menos fome do que o anterior. Não esquecia
até de Kika, sua cadela, e pensava nela correndo pelo gramado do Aterro do Flamengo. Lembrava-se
de si também, e imaginava-se feliz. Pedia aos céus por um amor que lhe
fizesse sentir em júbilo. Sua avó sempre lhe dizia que amor de verdade é o que tira-nos
do nosso equilíbrio para colocar-nos no prumo certo. Agora o sol cobria toda a
pedra, e o calor que ela irradiava avisava-a que o tempo passara. O astro rei estava lá em cima no céu, e o vento mudara de direção. Levantou-se lentamente,
contornou a borda estreita por onde as ondas batiam, chegou à área de banho, e
molhou os pés. A água estava quente e convidativa. Quem a visse ali na praia
acharia que era mais uma jovem a mergulhar. Pediu licença, e imergiu. O que para os outros era um mergulho, para ela era
uma benção de renovação. O seu jeito de dizer “Feliz Ano Novo!”.
(Deyvid Peres)
Moço, você escreve bem.
ResponderExcluirA imersão da Bárbara me pareceu um batismo, ou um renascimento, Uma maneira de deixar o Ano Velho pra trás e trazer todo o bem e seus desejos iluminados pro Novo Ano.
:)
Seguindo, ok?
Abraço!
http://porumlivronavida.blogspot.com
Que bacana, não tinha pensado em batismo! Mas você tem razão. =)
ExcluirObrigado, Anna!
Abraços.
Que gostoso de ler! Não sei nem como dizer o quanto me identifiquei muitíssimo com esse texto, por muitos detalhes! Parabéns pelo blog, adorei a forma como você escreve!
ResponderExcluir