Diana era dessas meninas que
gostava de meninas. Bem, pelo menos era o que todo mundo pensava. No colégio,
se destacava das outras meninas por nunca usar a saia típica do uniforme
escolar ou maquiagem. Gostava do seu cabelo preso, nada de franjas! Detestava “10
Coisas que Eu Odeio em Você” ou qualquer seriado sentimental que surgia na TV.
Mas por baixo de sua aparência combativa, se escondia uma menina frágil e
dócil. Eram poucas as meninas que conversavam com ela sem deixá-la triste e os
meninos a tratavam como se fosse um outro menino. Um dia Andresa, uma menina
que sempre implicava com ela, a cutucou pelo ombro direito:
- Você não está vendo que isso
aqui é banheiro de mulher, sua monstra?
Mais tarde Diana estava na sala
da diretora esperando sua mãe por ter agredido uma menina no banheiro, lhe
tirando sangue do nariz. Tudo que conseguia pensar era em como se sentia
triste, diminuída naquele momento. Nem a bronca de sua mãe e o castigo
importavam. Sentia-se despedaçada, abafada, deslocada. Convenceu-se de que havia
alguma coisa errada com ela. Já havia tentando se endireitar, mas usar a saia
do uniforme a fazia se sentir boba. Cabelo solto atrapalhava na hora de
escrever e jogar Handebol. Além do mais, não se reconhecia daquela maneira.
Estava perdida. Sua cara amarrada e de poucos amigos era a pura evidência
disso. No dia seguinte ganhou o apelido de Diana quebra-queixo. Não demorou
muito para ela virar assunto de reunião escolar e motivo de cautela entre os
pais. A cada dia se tornava mais infeliz. O ressentimento, a dor e as brincadeiras
ofensivas a faziam se odiar e se negar aos poucos. Ao auge dos seus 16 anos,
seu pai foi transferido para outra cidade, e Diana disse adeus à angústia de
ser ela mesma. Fez novos amigos, voltou a sorrir e ser gentil com as pessoas. Arrumou
um namorado.
Um dia voltando para casa, se
deparou com uma cena incomum. Era um dia chuvoso de verão, as ruas estavam por
água pelas canelas àquela altura. Era um daqueles momentos para não sair de
casa, mas sua mãe havia lhe emprestado o carro para conseguir ir à faculdade. Viu
uma mulher grávida, agachada com dor e sofrendo as contrações do parto. A rua
estava deserta, e Diana não pensou duas vezes colocou a moça no carro com custo
e se dirigiu ao hospital. Esperou para ver como a criança e mãe estavam depois
do parto. Os parentes da mulher foram chegando eufóricos e preocupados. Depois
do susto a mãe da mulher veio lhe agradecer por ter salvado a vida de sua filha
e sua neta, era uma gravidez complicada. Diana foi reparando
nas feições daquela senhora e flashes do dia na sala da diretora lhe vieram à
mente. Enquanto a diretora falava, a mãe de Andresa segurava gelo sobre a face
de sua cria. Esta tinha mudado muito, mas sua mãe estava quase que igual. Sua
vontade foi de gritar aos sete ventos como a filha dela tinha acabado com sua
adolescência e como ela foi infeliz, mas ao invés disso, contentou-se consigo
mesma e sorriu. Bonito mesmo era ter uma atitude positiva, bonito era perdoar,
como ela era bonita.
(Deyvid Peres)
Nossa Deyvid, muito profundo seu texto, nos faz refletir: por que a sociedade tem a necessidade de rotular as pessoas? Por que devemos seguir um padrão?
ResponderExcluirAdorei seu blog e por sinal já estou seguindo!
Grande abraço e que a força esteja com você!
http://www.paradageek.com/
Fico muito feliz que tenha gostado, Mateus!
ExcluirGrande abraço e que a força esteja com você também! Hahaha.