Hoje é dia de feijoada de Ogum aqui em casa. Acho isto
tudo muito interessante. Minha mãe forra a mesa do almoço com uma tolha branca
rendada. No altar, o santo tem sua vela acesa, e flores, muitas flores. A casa
agora tem um perfume adocicado, seja pelas flores, seja pela couve que está
sendo refogada. A panela de feijão é enorme, mal cabe em cima do fogão de
quatro bocas. Uma vasilha de farofa já está sobre a mesa. Alho. Sinto cheiro de
alho, talvez do arroz ao fogo. Minha mãe é bem brasileira, e daquelas bem
enraizadas em sua cultura. Sempre foi pobre, filha de nordestina e mineiro,
cresceu envolta às várias matrizes espiritualistas. Extremamente supersticiosa,
grande conhecedora das ervas. Acreditem, já tomei todos os chás possíveis,
todos os banhos com ervas que ela conhece e, às vezes, rola uma defumação. Pegam-se
ervas de diferentes propósitos, trituradas, e assim, jogadas à brasa acesa. A
fumaça é densa, branca, e muito, muito cheirosa. É um dia de reunião familiar,
mas este ano, apesar de não ser o recomendado, ainda vêm os meus irmãos com
esposas e filhos para a ceia. Menos mal, normalmente, é a família toda, com
direito aos cachorros a tiracolo. O ruim deste dia são os fogos. A Luna, cadela
que tenho há 10 anos, está ficando velhinha e cada vez mais assustada. Ela
cisma que quer se proteger do barulho dentro de casa, o que a faz ganhar uns
gritos de reprovação da minha mãe. Não soltem fogos de artifício.
(Deyvid Peres)
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