Queres Mesmo?


Queres-me para ti? Subverte-me ao frescor dos novos mundos, dos vales coloridos inexplorados, dos corpos em evolução, da fumaça vil, das frutas recém-colhidas. Tira-me do meu mundo, permite que eu viva o personagem que quiser inventar para ti, e não me julgues por minha leviandade. Mostra-me outras trilhas, novas vistas, e diferentes escolhas. Ilude-me sobre as coisas vãs, sobre o que parece pouco, sobre o que passa despercebido. Traz para mim a grandeza do teu olhar, a suavidade do teu toque, e os sorrisos mais doces. Alimenta-me com o que tens de melhor, dá-me abrigo para o frio, abana-me aos 40 graus. Ou faz o contrário, joga-me ao lago congelado no inverno, leva-me à praia ao verão. Prepara um filme para distrair-me quando estiver chovendo as tristezas infundadas, loucas e desconjuntadas, e abraça-me quando em silêncio eu gritar. Queres-me para ti? Vive a vida dos revolucionários, vive de amor. Faz-me seu amor. 


(Deyvid Peres) 



Naqueles Dias


Naqueles dias que nada faz sentido (e não são poucos), naqueles dias que não consigo estabelecer sequer uma linha de raciocínio que me leve a algum lugar, naqueles dias que já não me reconheço; Eu paro, sento ao chão, e olho pras estrelas. Nada mais precisa de sentido diante da complexidade do universo.


(Deyvid Peres)


Poema Sem Métrica



Nessas estradas vale a garra

Haveremos de aprender na marra

Os atalhos do caminho

Tentamos cruzar a ponte de arco-íris

Mas esquecemos que ela é feita de luz

E como bobos achamos 

Que existem caminhos outros 

Que a não trajetória do vale

Para alguns, nuvens espessas de lágrima

Os sustentam aquém

Para outros, jaulas de tortura e fogo os mantêm

Estagnados na masmorra

Mas para aqueles que têm a coragem de seguir

Para aqueles que matam os dragões à esgrima

Para aqueles que dão o corpo pra bater

Para aqueles que descobrem a doçura de ser o que é

Para esses, um unicórnio alado os leva

Os lava

Os despe

E os pousa nus, no topo da montanha

Bem no centro do vale




(Deyvid Peres)

O velho e o mar de memórias curtas




Sinto que a todo o momento que falo da minha vida é tudo sempre preto-e-branco e utópico. A memória faz essas peripécias com a gente. Esmaecem as cores, ameniza as divergências e emudece o ensejo. Os anos mais saudosos tornam-se dourados. Amizades, coloridas. E o resto é cinza. Isto acontece a um velho marujo como eu. Perdemos o brilho das relações singelas, seguimos os ventos favoráveis e deixamos os remos de lado por pura preguiça da mesmice. Adoramos o marasmo dos mares calmos e que não leva a lugar algum. Atracamos em qualquer porto que nos forneça segurança nos dias de tempestade, e ficamos depois que ela passa, mesmo que o cais esteja repleto da gente que nos repele, que nos tedia, que nos faz canoas quando somos veleiros. E quando decidimos partir, muitas das vezes porque a corda que nos prende já apodrece ao tempo, nos deixamos levar sem rumo, mesmo que o norte seguido não nos agrade. É mais fácil do que lutar contra as correntezas do litoral. Somos saudosos das cores que lembramos nas memórias pretas e brancas, e vivemos lá, como se já fôssemos morrer agora, antes das 30 primaveras.



(Deyvid Peres)

Lugar


Há lugares onde crescem os mais lindos lírios, por onde passam os mais límpidos córregos, e o ar parece ter um frescor maior. Há lugares que voltamos a visitar que permanecem os mesmos, apesar dos pequenos detalhes. É há lugares desérticos, pregando-nos as mais tentadoras miragens. Cada qual uma lição. O lugar delx estar agora tinha olhos e cabelos castanhos, mãos macias e perfume de jasmim.



(Deyvid Peres)