Ego Rosáceo


Certa feita uma rosa acordou e percebeu que lhe faltava uma pétala. Horrorizada começou a procurá-la por toda parte, mas o vento já havia levado. Chorou de tristeza, se revoltou com a vida e com tudo. Sem aquela pétala não se reconhecia, não se fazia ela mesma. Culpou-se por ter dormido e, assim, deixado que o vento lhe roubasse tão preciosa pétala. Brigou consigo mesma por não cuidar melhor de seu corpo, de sua saúde. Esbravejava contra a vida e todos que se aproximavam dela. Parou de conversar, parou de sorrir. Que dor era perder uma pétala. Numa dada manhã, resolveu mudar, seria otimista, sorriria para os insetos e pássaros que a visitariam dali por diante, seria gentil com as flores da vizinhança. Mas nenhum pássaro veio, nenhum inseto colheu seu pólen, nenhuma flor amiga havia por perto. Numa poça de chuva ao chão, olhou horrorizada a imagem que refletia. Ficou tanto tempo lamentando a perda daquela única pétala que não percebeu o tempo passar, e agora não possuía mais nenhuma.

(Deyvid Peres)

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