Março, 25, faz cinco dias que a saudade aperta.
Ela já vinha dando sinais de aproximação quando me deparei com o fim do verão.
O equinócio, embora fosse sempre uma data importante, porque marca o fim do
famigerado verão carioca e fim de meses de uma tortura escaldante, hoje também
me faz lembrar de outros fins. Não, nada na minha vida acabou nesta data, pelo
contrário, este período sempre foi uma época de recomeços e novidades. O
fim mesmo veio em outro instante, e deste, graças aos céus, esqueço. Mas é
durante a despedida do verão que me vem à cabeça os teus cabelos longos e
loiros, teus óculos redondos, teus pés pequenos, e teus olhos sorridentes. Tu
não sabes, mas é nesta semana do ano que a saudade mais aperta, mais me cobra
por coragem. Vejo-me deitado no colchão grande ao chão do quarto, acordando com
o barulho do tráfego matinal, abrindo os olhos e, já te encontrando sentado e
desperto. O cheiro da omelete recém preparada para o pequeno almoço,
delicadamente posta no prato, temperada com ervas e folhas verdes. Os passeios
esporádicos de bicicleta, as idas ao hortifrúti do quarteirão, as tuas sobrancelhas
contraídas de concentração ao computador. Talvez seja nesse instante que me
pego pensando nos teus abraços macios, no teu cheiro doce, e nos teus olhos verdes
refletindo a minha pupila. E isso acaba por me levar ao nosso sexo molhado,
ardente e, ao mesmo tempo, romântico, entreguista e cheio de amor. Fostes na
semana dos meus anos, mas é a semana dos teus que me maltrata. Não te mando
mensagens de felicitações porque isso me dói, desculpe-me a sinceridade, dói a
lembrança de que não existimos mais como antes, dói saber que estou a falar com
um aparelho e nada mais. Imagino que, talvez, passes pelo mesmo. Imagino minhas
mensagens chegando até ti, provocando uma mistura de surpresa e alegria
instantânea, e momentos depois isso tudo se transformando em tristeza e
nostalgia. E imagino também que a falta de contato seja ainda pior, como é para
mim, como sempre foi. Porém, gosto de pensar que, mesmo longe, nos encontramos
em pensamento. Eu penso em ti, tu pensas em mim, e nesse silêncio nos guardamos
no coração. Quem sabe um dia pensamentos e atos se reencontrem, e o universo
nos dê um ao outro de presente novamente? Quem sabe...
(Deyvid Peres)
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