Estou bêbado,
gente. Muito bêbado. Tomei duas taças. Nada que comprometa a minha obsessão por
ortografia, mas já estou puxando assunto de bar aqui. Queria estar no sofá, com
amigos, clipes na tevê, fumando um. Alguém levanta pra dançar, risadas, as pontinhas dos meus
dedos formigam.
De repente, um beijo
gelado de cerveja. Ao longe, pra minha mente navegante, ouço alguém falar de
política, ao meu lado alguém conta a biografia de Elza Soares. Meia-luz, um
abajur estranho e velho de papel crepom. Na mesa, comidas veganas feitas pela
namorada de alguém.
Algo familiar me
vem à cabeça. É uma cena do passado. Você nem sabe o que fez comigo, sabe? Que
diabos você está fazendo aqui? Você só pensa em si mesmo. Você primeiro. Não,
você não faz ideia do que passei. Não faz ideia das consequências das suas
ações. Vá embora! Você não é mais bem-vindo. Não… Fique. Preciso de você. Não
bata a porta com tanta força, este é o seu jeito de dizer que não me ama mais?
Isso. Vá. Nunca mais volte. Você não faz ideia.
Vou à cozinha.
Algum amigo hétero resolve externar amor, efeito do álcool, me abraça e me
beija. Jura amizade, diz que me ama. Fofo. Quem deu aquele beijo gelado? Pego
um pão e saio. Vou fumar mais um.
(Deyvid Peres)