Titi ti titi ti... É
triângulo que eles chamam, né? Aquele instrumento musical, metálico
em forma de triângulo, que o cara fica marcando passo. Tititi ti
titi ti... Não conseguia me concentrar... O agudo do bater de ferro me
remetia inevitavelmente a um pedaço do coração que queria
esquecer... Esquecer... Precisava trabalhar e lá estava aquele som infernal na
minha cabeça. Não porque me perturbava somente, mas porque trazia à tona um passado que queria não pensar, ou melhor dizer,
deixar de lembrar. Não sei o que é pior, querer perder a lembrança
de um pessoa, ou NÃO QUERER. Em todo caso, a lembrança vem mesmo assim... No meu caso a culpa é toda da música. Sim, ela que sempre
consola, que distrai, que alegra. A música é uma amante que precisa
de atenção, quando não distrai e faz a gente feliz, está
lembrando a gente de quando a gente era feliz e distraído. Ah, ironia
da vida! E quando o que te devora é justamente o que você gosta de
comer? Aí meu amigo, aí não tem jeito. Todos os dias ouço um
certo gênero, e todos os dias os acordes das guitarras me torturam.
Então por que não parar de ouvir, você me perguntaria. Porque eu
gosto. Não gosto da tortura, gosto da lembrança que a provoca.
Gosto do sorriso que vem ao rosto antes da realidade. Isto meu caro,
é o não querer. Acabo por descobrir que não querer é pior que
querer... Pior ainda, não querer e precisar querer! Precisar? É
preciso precisar? NÃO. Não quero precisar querer! Quero
querer, e quero precisar...
(Deyvid Peres)
(Deyvid Peres)
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