Era comum que ela fosse, mesmo sem
perceber, foco de toda e qualquer atenção nas festas. Seu jeito tímido, seu
olhar concentrado, e sua voz baixa não faziam jus a sua beleza imponente. Não
que ela fosse a mais bonita do ambiente, mas certamente tinha um charme que
conquistava até aqueles que a aborreciam. Dom incomum esse que possuía. Na
realidade, em seu interior, não precisava de nada disso. É bem verdade que
situações como essas alimentavam o seu ego e atenuavam sua baixa autoestima.
Mas não era por isso que se sentia bem. Era por toda gentileza sincera, pelo
coração aberto, e energia positiva daqueles que escolhia conviver. Poderia ter
qualquer rapaz, mas preferia ter um por vez, ou dois, mas não todos. Preferia
ter aqueles que ela pudesse amar de verdade, e eles a ela pelo o que é.
Vegetariana por opção levava uma vida que tinha lá seus ideais. Respeitar cada
criatura viva no planeta. Dar valor à família. Dar valor àqueles que plantavam
sua comida e àqueles que a preparavam, agricultores, padeiros, cozinheiros, sua
irmã. Dar valor a cada amor pelo qual era agraciada, e tinha a honra de
hospedar. Dar valor à mulher que possuía o ventre que a abrigara durante o
processo de chegada a este mundo. Era do tipo de menina que dava importância a
essas pequenas coisas. O vento que batia em seu rosto durante os passeios de
bicicleta; as montanhas que via de sua janela e a lua que se escondia por trás
delas; a semente que brota; a folha que cai; o pássaro que canta enquanto voa à
procura de alimento; o barulho da água do chuveiro. E por falar em água, como
era linda! Tinha extremo fascínio pelo mineral transparente, pelo modo como
oscilava de cor e como a luz se comportava quando ele mudava de estado físico.
Um mundo perfeito seria um lugar com as luzes do submerso, do mistério e da
calma. Cada molécula de água no seu corpo parecia entrar em sintonia com a
vibração daquelas em que se banhava, recarregando-lhe toda a energia vital.
Tinha a dádiva de olhar profundamente dentro dos olhos das pessoas e enxergar
suas angústias, suas crenças, e a bondade que reinava dentro delas. Ignorava
por preferência aquilo que via de ruim, e ao mesmo tempo agia com justiça a
qualquer maldade que presenciasse. Vivia em um mundo criado por ela mesma, um mundo
onde o amor fosse prioridade. Que santo não a recompensaria devolvendo tudo
isso? O universo respondia agraciando-a com uma energia de acolhimento e amor
que nenhuma outra pessoa conseguia entender, mas enxergava e sentia. Era o foco
nas festas por causa do amor que emanava e refletia, ponto. Era água.
(Deyvid Peres)
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